fevereiro 04, 2009

Máq. Fotográfica: My Blackberry :)
Cabo verde, Cidade da Praia. Fotos tiradas no bar panorâmico do hotel Praia Mar
Alguns longos dias fora de casa e cheia de saudades dos meus livros. Apanhei o primeiro que as minhas mãos alcançaram e voilá....as mais belas palavras sobre a Vida.
"Mestre, a vida tem-se revelado madrasta para as nossas esperanças e desejos. Nos nossos corações reina a perturbação, e não conseguimos entender. Rogamo-vos, reconfortai-nos, e revelai-nos o porquê das nossas penas."
Com o coração emocionado pela compaixão, retorquiu:
"A Vida é mais antiga do que qualquer ser vivo; antes mesmo de a beleza se elevar nos ares, já o belo existia na terra; e antes mesmo de a verdade ser pronunciada, já se revelara como tal.
A Vida canta nos nossos momentos de silêncio, e sonha enquanto passamos pelo sono. Até mesmo quando fomos fustigados e estamos abatidos, a Vida permanece elevada e entronizada. E quando derramamos lágrimas, a Vida sorri para o dia, e é livre, mesmo quando as nossas correntes arrastamos.
Frequentemente, vociferamos contra a Vida, mas isso apenas quando somos, nós próprios, amargos e sombrios. Julgamo-la vazia e falha de sentido, mas isso quando a nossa alma vagueia por desérticos lugares, e o coração se encontra inebriado por uma excessiva preocupação com o nosso próprio ego.
A Vida é profunda, elevada e distante; e mesmo que o vosso olhar alcance longe, e vos seja, mesmo assim, apenas possivel distinguir os seus pés, ela encontrar-se-á perto de vós; e não obstante apenas o bafo da vossa respiração atingir o seu coração, a sombra da vossa sombra projectar-se-á na sua face, e o eco da vossa mais sumida lamentação transmutar-se-á em contraditórios sentimentos de Primavera e Outono em seu peito.
E a Vida é velada e oculta, tal como o vosso mais recôndido eu é oculto e velado. Contudo, quando a Vida se exprime, todos os ventos são palavras; e quando volta a pronunciar-se, os sorrisos nos vossos lábios e as lágrimas nos vossos olhos também são como palavras. Quando ela entoa uma melodia, os surdos escutam e são acolitados; e quando os passos dela se aproximam, os cegos vêm-na, surpresos, seguindo-a entre maravilhados e admirados."
E, após ter acabado de falar, um vasto silêncio envolveu as pessoas, agora reconfortadas na sua solidão e na sua dor, e nesse silêncio uma imperceptível canção.
Kalil Gibran in O Jardim do Profeta